A maioria dos professores concordaria que é
importante que os alunos se lembrem do que leem. Mas uma das coisas mais
comuns em escolas e faculdades é vê-los debruçados sobre livros,
marca-textos na mão, destacando passagens pertinentes – que geralmente
acabam incluindo a maior parte da página. No final do semestre eles se
preparam para as provas, voltando aos livros e relendo os blocos
amarelos do texto.
Pesquisas mostraram que destacar e reler
textos estão entre as maneiras menos eficazes de os alunos se lembrarem
do conteúdo que leram. Uma técnica muito melhor é fazer uma dinâmica em
grupo. Em um estudo, alunos que leram determinado texto uma vez e
tentaram lembrá-lo em três ocasiões tiveram notas 50% maiores nas provas
que alunos que leram um texto e depois o releram três vezes. E ainda
assim muitos professores insistem em encorajar – ou pelo menos em não
desencorajar – as técnicas que a ciência provou ineficazes.
Esse é
apenas um sintoma do fracasso geral de integrar o conhecimento
científico na escola. Muitas ideias comuns sobre educação desafiam
princípios de cognição e aprendizagem. Um erro comum, por exemplo, é
pensar que o ensino de conteúdo é menos importante que o de habilidades
de pensamento crítico ou estratégias de resolução de problemas.
Pesquisadores sabem há muito que crianças devem aprender as conexões
entre letras e sons e que se beneficiam mais quando essa instrução é
planejada e explícita. Mas alguns programas de leitura, mesmo os usados
em grandes distritos escolares, só ensinam isso se o professor
considerar necessário.
É fácil dizer que os professores devem se
esforçar mais para acompanhar a ciência, mas ensinar já é uma profissão
muito trabalhosa. E é difícil para um não especialista separar pesquisas
científicas da avalanche de falação e pseudociência. Vendedores de
panaceias caras e supostamente baseadas em pesquisas científicas fazem lobby de
produtos que podem ter validade científica mas ainda não foram
profundamente testados. Teorias de aprendizagem matemática, por exemplo,
sugerem que jogos de tabuleiro lineares (mas não circulares) aumentam a
prontidão matemática em pré-escolares, mas a ideia precisa de testes em
grande escala.
Como os educadores devem saber quais práticas adotar? Uma instituição
que consulte pesquisas e as resuma poderia resolver o problema. A
medicina fornece um precedente: médicos praticantes não têm tempo para
se manter atualizados com as dezenas de milhares de artigos de pesquisa
publicados anualmente, capaz de sugerir uma mudança de tratamento. Em
vez disso, eles confiam em sumários respeitáveis de pesquisas,
publicados todo ano, que concluem se as evidências acumuladas apoiam
mudanças na prática médica. Professores não têm nada semelhante a essas
revisões competentes: eles estão por conta própria.
O Departamento de Educação dos Estados Unidos (DOE, em inglês) tentou, no passado, levar rigor científico ao ensino. A câmara What Works,
criada em 2002 pelo Instituto de Ciências Educacionais do DOE, avalia
currículos, programas e materiais de sala de aula, mas seus padrões são
estritos e professores não têm participação no processo de verificação,
tampouco na avaliação – e isso é crucial. Cientistas podem analisar
pesquisas, mas professores entendem de educação. O propósito dessa
instituição seria o de produzir informações que possam ser usadas para
modelar ensino e aprendizagem.
É importante também que ideias
fornecidas por uma instituição venham da ciência básica. Muitos
professores precisam perder as noções de que crianças têm “estilos de
aprendizagem” diferentes e que cérebro de menino é melhor em atividades
espaciais que o de menina. Pode-se dizer que o trabalho de levar
informações científicas precisas sobre cognição e aprendizagem a
professores seja responsabilidade de faculdades de educação, estados,
distritos e organizações profissionais de professores, mas essas
instituições mostraram pouco interesse na função. Um conselho nacional
de revisão neutro seria a resposta mais simples e rápida para um
problema que é um grande obstáculo para a melhoria em muitas escolas.
(Daniel T. Willingham)
Fonte do artigo: http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/ciencia_cognitiva_na_sala_de_aula.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário